Quando a maior mentira é para nós mesmos
- Stephany Locatelli

- 25 de set.
- 3 min de leitura
Reflexões sobre sinceridade e o peso de escolher a verdade
Quem nunca contou uma mentira? Mesmo uma daquelas de leve, sabe? Quando você quebrou um vaso jogando futebol dentro de casa e disse para a sua mãe que não tinha sido você, só para evitar a bronca. Ou quando pegou um brigadeiro da mesa de docinhos e fingiu não saber quem tinha feito isso. Ou até quando fingiu estar doente numa manhã fria e chuvosa, apenas para faltar à aula.
Existem vários tipos de mentiras. As inofensivas, contadas para evitar constrangimentos ou não magoar alguém. As de omissão, quando escondemos a verdade ao deixar de compartilhar informações importantes. A compulsiva, que leva alguém a mentir de forma frequente e quase automática. E a patológica, aquela mentira elaborada, intencional, com o objetivo de manipular e enganar.
A verdade é que, por melhores que sejamos, em algum momento da vida inventamos alguma coisa. Mentimos para alguém. Algumas dessas mentiras foram grandes demais e acabaram virando uma bola de neve; outras foram tão pequenas que nem lembramos mais.
Mas percebi que existe algo pior do que mentir para outra pessoa: é quando mentimos para nós mesmos. Sobre quem somos, sobre o que aceitamos, sobre o que suportamos. Essa, sim, é uma mentira imperdoável.
"A mentira mais frequente é aquela que passamos a contar para nós mesmos." (Friedrich Nietzsche)
Esses dias, estava assistindo Supernatural, e uma frase me chamou a atenção. No episódio 16 da décima quinta temporada, a Caitlin diz ao Dean: "O que dizem sobre envelhecer? Falamos a verdade, pois sabemos que mentir não resolve nada!" O contexto era outro, mas me permiti interpretar de várias formas.
Uma delas foi lembrar de quantas vezes mentimos para nós mesmos só para manter alguém em nossa vida. Quantas vezes aceitamos menos do que merecemos, jurando que “tá tudo bem”. Escolhemos acreditar que a pessoa vai mudar, que dessa vez será diferente — mesmo depois de uma, duas, três experiências iguais, que sempre terminam em decepção.

Quantas vezes eu mesma não repeti para mim mesma: “Dessa vez será diferente. Estou no controle e, ao menor sinal de desrespeito, eu irei embora”. Mas, adivinha? Eu não fui. Em nenhuma das vezes. Escolhi ficar até o fim, mentindo para mim mesma, inventando desculpas para justificar as mentiras do outro. Permaneci onde eu já sabia que não era feliz.
"Uma mentira pode salvar seu presente, mas condena seu futuro." (Atribuída a Buda)
Mas, como a frase mesmo diz, conforme vamos amadurecendo a forma como enxergamos a vida, as coisas a nossa volta vão mudando. E nossa, que ótimo! E amadurecer, nesse caso, foi parar de criar desculpas para defender quem nunca teve sequer o trabalho de pedir “desculpas” pelo que me fez passar. Percebi que, quanto mais eu valorizava a mim mesma, mais fácil ficava me afastar das pessoas que me feriam. Mais fácil era sair de lugares que não me cabiam mais.
Também comecei a reparar em como eu me sentia quando descobria que alguém tinha mentido para mim: traída, triste, às vezes com raiva. E sabia que jamais seria capaz de agir da mesma forma com outra pessoa. Então, por que aceitava mentir para mim mesma? Consegue entender o peso dessa reflexão?
E mais: por que eu permitia que algumas pessoas voltassem para a minha vida depois de me enganarem? Porque eu gostava delas. Porque eram importantes para mim. Mas a verdade é que essa consideração nunca foi recíproca. E ainda tem outro detalhe: quase nunca a mentira vem à tona pelo arrependimento do outro. Geralmente descobrimos por acaso. Se não descobríssemos, tudo continuaria igual.
"Se eu não tivesse descoberto você ainda estaria mentindo pra mim, porque você é assim?" (Livro Tudo o que eu não te disse 2: Passagem só de ida)
Eu sei que jamais seria capaz de enganar alguém. Sempre prezei pela sinceridade. Não conseguiria olhar nos olhos de alguém e dizer “eu te amo” sem sentir de verdade. Não faria alguém acreditar que é o amor da minha vida se não fosse. E nunca manteria alguém por pura conveniência.
Pensar nisso me fez refletir sobre o que estou disposta a aceitar, sobre quem merece permanecer na minha vida.
Infelizmente, não existe fórmula pronta para isso. Não há receita que nos ensine a desapegar de quem nos machucou ou a se livrar de todos os sentimentos de uma vez. Nem eu consegui. Ainda sinto, ainda amo. Deixar ir não é simples. Então, como saber qual decisão tomar? Como criar coragem para fazer o que precisa ser feito?
A resposta não é externa. É íntima. Você precisa parar, respirar fundo e entender o que realmente merece. Só então será capaz de escolher a verdade — e, principalmente, de ser verdadeiro consigo mesmo.
"A mentira pode se sustentar por muito tempo, mas não por toda a vida." (Autor desconhecido)
Com amor,
Ste ♡






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